domingo, 28 de setembro de 2008

O justificador

Dia desses, participei de um debate. Ele, doutor em Teologia. Ela, doutora em Literatura. A discussão girava em torno do valor da Bíblia como texto literário ou não.

Em meio às informações teológico-literárias, resguardados os academicismos e tudo mais, algo que se passou naquela situação permaneceu comigo.

A professora de Literatura apresentou-nos alguns textos poéticos para explicar a relação Bíblia e Literatura. Murilo Mendes, poeta modernista juizforano, foi o seu objeto de estudo.

Foi nessa ocasião que conheci "O justificador" de Murilo Mendes.
(...)
Os homens te dividem em mil imagens falsas:
Mesmo assim, mutilado, esquartejado, sujo,
Dás a todos o único, o insubstituível consolo.
Tuas parábolas publicadas em edições de engraxate
Comovem ao mesmo tempo o ignorante e o poeta.
Os maus sacerdotes em vão procuram te ocultar:
Tu os convertes na última hora, como ao bom ladrão.
Espalhas pela terra teu corpo e tua alma em pedaços.
E cada alma, mesmo ruim, é uma relíquia tua.
Diariamente o mundo te persegue e te mata,
Diariamente ressuscitas e atraís o mundo a ti.