sexta-feira, 29 de julho de 2011

Com fé, irias

Lá vão elas
e surgiram há pouco.
Apressadas apareceram
as que evanescem ligeiras.
Aqui fica a soma da sua companhia
instigando o reencontro.
Lembrança sem pressa dos dias em que
nós nos pertencíamos.
Aquela voz malandra me desafia:
- Irias, com fé, irias.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O sentimento do mundo

Dias atrás, estava conversando com uma amiga, também professora, sobre o papel que as tragédias desempenham na humanidade. Segundo a tese dessa companheira, parece que, por vezes, só mesmo acontecimentos catastróficos podem deslocar o homem de seu comodismo e insensibilidade, desempenhando um papel de nova humanização. Assim, a dor e a consternação provocadas por fatos assustadores são estratégias pedagógicas para que aprendamos a, novamente, o valor da vida.

Agora, surpreendo-me com incidente ocorrido na Noruega. Os ataques ao acampamento de verão e ao centro de governo de Oslo eram inesperados para um país com quase cinco milhões de habitantes, mediador de conflitos internacionais, criador do prêmio Nobel da paz e com baixíssimos índices de violência. Particularmente, entristeceu-me tomar conhecimento do fatídico 22 de julho de 2011. Entre agosto de 2007 e junho de 2008, morei na Noruega e, com isso, pude entender melhor sobre o modus vivendi dos noruegueses. E uma das coisas que me deixou curioso e admirado foi ver os policiais noruegueses desarmados e, no dia da independência, 17 de maio, não há desfile de comitivas militares com todo o arsenal bélico do país.

Imaginem o que significa alguém assassinar, covardemente, quase oitenta jovens em uma ilha e preparar uma explosão na capital de um país como esse? Falando com alguns amigos noruegueses, pude confirmar aquilo que já presumia: eles estão em choque. A lógica da violência é ilógica naquela cultura. Ontem, eu me encontrei com um senhor norueguês na igreja e ele também demonstrava esse sentimento de buscar, debalde, alguma razão para o que se viu acontecer.

Acredito que essa hesitação diante da calamidade foi captada por Carlos Drummond de Andrade nos versos iniciais do poema "Sentimento do mundo". Neles, o poeta confessa: "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo". Enfrentando esse percepção das agonias da existência, ao final do poema, o eu lírico constrói a imagem de um amanhecer que é "mais noite que a noite". E não é assim que nos sentimos diante de acontecimentos como esses?

Retomando aquela conversa que tive com a amiga professora, eu me lembrei de uma metáfora bastante lúcida que C. S. Lewis construiu: "o sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido" (The problem of pain). Diante da barbárie que nos aflige no século XXI, o que mais pode nos dar esperança e amor senão Aquele que quer, desde sempre, preservar a vida?