sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cortina

"Aquela janela precisa de uma cortina". A sentença fora pronunciada diversas vezes. Ela achava importante e essencial, mas ele não. Homem tem dessas coisas. "É melhor assim, é bom pro ar circular mais". A alma feminina averiguava (e achava) razões mil para cobrir a tal janela. O argumento mais repetido era o da privacidade. "Todo mundo que passa na rua olha aqui para dentro".

Já dizia o ditado, quando um não quer, dois não brigam. Contudo, naquele caso, a briga permanecia tácita entre os dois. De um lado, a indiferença dele, já que o ar tinha que circular no ambiente. Do outro, a frustração dela por julgar que a casa estava desprotegida sem a sonhada cortina.

Os anos de casamento se passavam e a janela continuava a enxergar marido e mulher todos os dias. Havia meses em que o assunto retornava mais intensamente. "Eu vi umas cortinas lindas hoje". Era o suficiente para retomar a discussão. Não que a questão fosse por demais conflitante, tratava-se mais de um deixa que eu deixo não declarado entre ele e ela e vice-versa.

Era mais um dia normal e ela voltava para casa com a sacola na mão. Dentro, vinham as cortinas. "Alcança aquele parafuso ali pra mim?", pediu o marido, do alto da escada, instalando os trilhos. Os olhos intrometidos daquela janela não iriam mais assistir às querelas do casal.

domingo, 22 de agosto de 2010

A César o que é de César

Eu não voto em pastor. Eu não voto em padre. Eu não voto em babalorixá. Eu não voto em rabino. Não voto nos derivados religiosos. Eu não voto em cantor. Eu não voto em jogador.

O pastor, o padre, o babaloxirá, o rabino que não sabe legislar ou executar serve para que nos cargos políticos? De que adianta o cantor ou o jogador de futebol que não sabe o que lhe é responsabilidade no âmbito político quando eleito?

Quer sejam religiosos, quer sejam representantes de um classe profissional, as figuras que aparecem na época de eleições precisam, antes de tudo, de mostrar que sabem o que é democracia, de mostrar que sabem o que é o cargo para o qual se candidatam. E esse mostrar que sabem não quer dizer ter na ponta da língua a definição, mais do que isso, a vida que vivem é que deve dizer. Por exemplo, o pastor não exercerá o mandato, mas sim o cidadão fulano de tal que, por acaso, é pastor e se candidatou. Percebe a (i)lógica?

Eu voto, sim, em homens e mulheres que se mostram capazes de exercer as funções que lhes são cabidas. Inegavelmente, a experiência pessoal é fator que conta na hora de se escolher em quem votar. Por isso, é preciso, antes, saber qual o nível de experiência na vida pública desses representantes religiosos ou profissionais. O que eles já fizeram ou fazem em prol da sociedade?

Oficiar rituais religiosos é uma coisa. Entreter com o futebol e com a música é uma coisa. Agora, exercer um cargo público é fundamental não só para um segmento, mas para toda a sociedade. Tem gente que é e tem gente que não é religiosa. Tem gente que gosta e tem gente que não gosta de futebol ou de determinado estilo musical. Mas todos experimentam a consequência daquilo que faz um governante.

Já dizia o Nazareno: "deem a César o que é de César e, a Deus, o que é de Deus" (Mateus 22.21).