A face baixa, numa timidez solene, olhou para o papel e, nas linhas que enxergava ali, parece ter se encorajado para dizer "Professor, é que eu escrevi um poema..." Foi um desabafo. A irrupção criativa daquela moça me constrangeu.
Um silêncio conversou conosco naqueles instantes. Eu, ainda positivamente perplexo, perguntei se a jovem gostaria de ler para a classe o seu poema, afinal de contas, a poesia pedia para ser nossa, pois nos tirou do mecanismo didático, da rotina pedagógica e nos despertou para respirar ares de vida e de liberdade ainda que naquela sala de aula tão comum.
Aquela voz foi crescendo. O poema se tornou público, saindo daquela folha de caderno e alcançando a moçada que estava distribuída no entorno. Eu observava e quase não acreditei que aquele voo livre da poesia desse um rasante em nós na terça-feira de manhã. Leitura concluída. Silêncio. De repente, respeitoso, um menino começou a aplaudir. O aplauso foi seguido por toda a turma e por mim também. Como não celebrar a poesia entre nós?