Em 31 de outubro de 1517, o monge
agostiniano Martinho Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg, na
Alemanha, as 95 Teses (Disputação do Doutor Martinho Lutero sobre o
Poder e Eficácia das Indulgências). A ideia era convocar um debate
teológico sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé. Contudo, a
partir dessa publicação, uma série de eventos se deram que conduziram o
Cristianismo a um intenso processo de discussão e à sua cisão.
Por que Lutero publicou as teses?
Desde os primeiros anos no seminário, preparando-se para a vida como padre, ele
experimentava uma angústia, sentindo-se indigno da tarefa por ser pecador.
Nesse tempo, um mentor lhe aconselhou a fixar sua atenção exclusivamente em
Cristo, pois o Redentor sim teria como lhe ofertar direção. Aos 27 anos, Lutero
fez uma visita a Roma, centro do Catolicismo mundial, e de lá voltou muito
abalado pelo que viu: venda de indulgências, comércio de coisas sagradas,
ostentação do clero, corrupção, enfim, práticas tidas por “cristãs”, contudo,
muito distantes daquilo que Jesus instruíra. Após essa experiência, ele
regressa à Alemanha e se dedica ao estudo e ao ensino bíblicos na Universidade
de Wittenberg, buscando entender suas inquietações.
Foi através do dedicado estudo da
Bíblia que Martinho Lutero chegou a um esclarecimento acerca daquilo que lhe
inquietava. Certa vez, enquanto ele preparava suas aulas, leu o Salmo 22, que
aparece no apelo de Cristo na cruz, e percebeu que esse clamor era semelhante
ao seu, sentindo-se desamparado por Deus. Tempos depois, estudando o texto da
Carta de Paulo aos Romanos, Lutero leu “O justo viverá por fé” (Rm 1.17). Ele
mergulhou nesse texto... Finalmente, percebeu que a salvação não era para gerar
nos homens medo de Deus, nem para que os dogmas religiosos escravizassem os
homens, antes disso, ele entendeu que é apenas a fé que pode salvar. E assim
que começa a reforma da vida de Lutero que acaba levando à Reforma Protestante.
A Reforma não é apenas um evento
histórico que atingiu o Cristianismo no século XVI e ficou por lá. Certamente,
as consequências sociais, culturais, econômicas, dentre outras, são flagrantes.
Contudo, é fundamental pensar que a Reforma surge com uma proposta de
reestruturar a Igreja, com “i” maiúsculo, o Corpo de Jesus Cristo, o povo que
confessa Cristo Jesus como Senhor e Salvador, como o caminho, a verdade e a
vida. Portanto, a Reforma tem a ver com pessoas.
Assim, é importante olharmos para a
Reforma como um chamado que ainda hoje ressoa, convidando-nos a ressaltar a
soberania de Deus, lembrar nossa condição pecaminosa e necessidade de salvação,
dinamizar nossa vivência da fé e permanecer firmados em Cristo até que ele
volte.
As ênfases da Reforma Protestante
ficaram conhecidas como “Os 5 Solas”, expressões em latim que enfatizam as
convicções essenciais da fé cristã. São elas: Sola Scriptura (“Somente a Escritura”) – Somente a Bíblia é
autoridade de fé e de prática; Sola Fide
(“Somente a Fé”) – Somos salvos somente pela fé em Cristo; Sola Gratia (“Somente a Graça– Somos salvos somente pela graça de
Deus; Solus Christus (“Somente Cristo”):
Jesus Cristo somente é nosso Senhor, Salvador e Rei; e Soli Deo Gloria (“Somente para a glória de Deus”) – Vivemos somente
para glorificar a Deus.
Os
5 Solas representam um chamado à transformação de nossas vidas e à redescoberta
do Evangelho. Percorrendo as Escrituras, nós
encontramos as bases dos 5 Solas:
Sola Scriptura
Romanos 15.4; 2 Timóteo 3.16-17
Sola Fide e Sola Gratia
Romanos 1.17; Efésios 2.8
Solus Christus
João
1.1-4; Hebreus 7.22-25; Romanos 8.34; Atos 4.12.
Soli Deo Gloria
1 Coríntios 10.31
Os 5 Solas nos ajudam a:
1) ressaltar a soberania de Deus:
Escritura
– voz de Deus.
Fé
– dom de Deus.
Graça
– favor de Deus.
Cristo
– Cordeiro de Deus.
Glória
– Devida a Deus.
2) lembrar nossa condição pecaminosa
e necessidade de salvação: Pecado
é aquilo que é intrínseco ao nosso ser, uma disposição existencial para viver
longe de Deus. É diferente de ações (pecados). Estas são consequências da causa
maior, o pecado, integrante do ser humano.
Escritura
– confronta as mentiras deste mundo.
Fé
– reação à condição de rebeldia contra Deus.
Graça
– quebra a ideia de barganha com Deus.
Cristo
– denuncia nosso egoísmo, revela nossa insuficiência.
Glória
– convite ao quebrantamento e à humilhação.
3) dinamizar nossa vivência da fé:
Escritura
– amparar-nos na verdade, na voz do Senhor.
Fé
– conhecer e prosseguir no conhecimento de Deus.
Graça
– transformar nossa percepção (gratidão, louvor, perdão etc.).
Cristo
– Senhor absoluto que nos chama à missão, ao testemunho, ao serviço.
Glória
– “porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas” (Rm 11.36).
Como
se pode perceber, a Reforma nos desafia a considerar as Escrituras, a fé, a
graça, Cristo e a glória divina como fundamentais na nossa caminhada cristã. Em
1 Pedro 3.15, temos uma exortação: “Estejam sempre prontos para responder a
qualquer pessoa que pedir que expliquem a esperança que vocês têm.” (NVI). É
muito importante saber o que cremos para vivermos uma fé autêntica e darmos
testemunho daquilo que o Senhor tem feito em nossas vidas.
A
Reforma continua... Sim, ela se faz nova de novo quando, com fé, aproximamo-nos
das Escrituras, ouvindo a voz de Deus. A Reforma continua... Sim, ela se faz
nova de novo quando experimentamos a graça de Deus. A Reforma continua... Sim,
ela se faz nova de novo quando caminhamos com Cristo, ouvindo atentamente a sua
voz e nos tornando semelhantes a ele. A Reforma continua... Sim, ela se faz
nova de novo quando decidimos viver de modo obediente ao Senhor, santificando o
nome de Deus na terra assim como ele é santo no céu, para a glória do Seu santo
nome, permanecendo em Cristo até que ele, em breve, volte.