sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cortina

"Aquela janela precisa de uma cortina". A sentença fora pronunciada diversas vezes. Ela achava importante e essencial, mas ele não. Homem tem dessas coisas. "É melhor assim, é bom pro ar circular mais". A alma feminina averiguava (e achava) razões mil para cobrir a tal janela. O argumento mais repetido era o da privacidade. "Todo mundo que passa na rua olha aqui para dentro".

Já dizia o ditado, quando um não quer, dois não brigam. Contudo, naquele caso, a briga permanecia tácita entre os dois. De um lado, a indiferença dele, já que o ar tinha que circular no ambiente. Do outro, a frustração dela por julgar que a casa estava desprotegida sem a sonhada cortina.

Os anos de casamento se passavam e a janela continuava a enxergar marido e mulher todos os dias. Havia meses em que o assunto retornava mais intensamente. "Eu vi umas cortinas lindas hoje". Era o suficiente para retomar a discussão. Não que a questão fosse por demais conflitante, tratava-se mais de um deixa que eu deixo não declarado entre ele e ela e vice-versa.

Era mais um dia normal e ela voltava para casa com a sacola na mão. Dentro, vinham as cortinas. "Alcança aquele parafuso ali pra mim?", pediu o marido, do alto da escada, instalando os trilhos. Os olhos intrometidos daquela janela não iriam mais assistir às querelas do casal.

2 comentários:

Barbara disse...

Como sempre você consegue expressar com suas palavras situações muito particulares ou mesmo as corriqueiras. Mas nesse caso tenho a sensação de conhecer essa história de algum lugar....Parabéns pelo belo texto. Bjos!!!

Ronni Anderson disse...

Resolvi vir aqui pesquisar algo e encontrei esse texto.
Agradável. Simples. Que fala.
Gostei bastante!