“Assim é a nossa vida aqui. A
coisa que lhe dá horror, que lhe parece quase impossível, é entregar todo o seu
ser — todos os seus desejos e precauções — a Cristo. Mas isso é muito mais
fácil que aquilo que todos nós tentamos fazer. Pois o que cada um tenta fazer é
continuar sendo aquilo que chama de "ele mesmo", é continuar tendo a
felicidade pessoal como grande objetivo na vida, e ao mesmo tempo ser
"bom". Cada um tenta deixar que sua mente e seu coração sigam seus
próprios caminhos — centrados no dinheiro, no prazer ou na ambição —, e apesar
disso tem a esperança de se comportar de modo honesto, casto e humilde. Mas é
exatamente isso que Cristo nos advertiu que não se pode fazer. Como ele disse,
não se geram figos dos abrolhos. Se sou um campo que só contém sementes de
capim, não posso produzir trigo. Se o capim for cortado, pode até permanecer
baixo: mas nem por isso vou produzir trigo em vez de capim. Se quiser produzir
trigo, a mudança terá de ser mais profunda. Meu campo terá de ser carpido e
depois semeado com sementes novas. É por isso que o verdadeiro problema da vida
cristã se apresenta num contexto em que geralmente não esperamos encontrá-lo:
apresenta-se no momento mesmo em que você acorda de manhã. Todos os seus
desejos e esperanças para aquele dia avançam em sua direção como bestas
selvagens. E, a cada manhã, sua primeira tarefa é simplesmente a de repeli-los;
é a tarefa de ouvir aquela outra voz, assumir aquele outro ponto de vista,
abrir caminho para aquela outra vida, uma vida maior, mais forte e mais
silenciosa. E assim também no restante do dia: distanciar-se de todas as suas
manhas e ressentimentos naturais; sair do vendaval”.
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