Edvard Munch,
Gólgota, 1900
Óleo sobre tela. 80 x 120 cm.
Munch
Museu, Oslo, Noruega.
|
O
azul, em companhia do roxo e do preto, compõe a parte superior da tela,
contrastando com a massa multicolorida embaixo. A tensão das pinceladas que
constroem a massa anil se traduz nas linhas distorcidas que orientam a composição
das personagens participantes da obra. O elemento pictórico que conjuga céu em
tensão e terra em dispersão é, basicamente, o traço verticalizado cruzado com a
linha horizontal. Destacado mediante uma luminosidade amarelada em oposição ao
sinistro predominante no quadro, esse componente ocupa o cerne da imagem. Na
pintura, uma sensação de convergência leva os nossos olhos ao centro da tela e,
nele, encontramos o crucificado.
Os
perfis de homens e mulheres, sugeridos aos pés da cruz, parecem compor um cenário
multicultural, mesclando gente de tribos, povos e etnias variados. Além disso,
eles têm distintas posições ante o acontecimento. Alguns parecem ser levados,
capturados pelo evento, dissolvendo-se em rendição, perdendo-se e fundindo-se
aos outros; alguns se mostram chorosos, contritos, quiçá, em lamento pela
violência da cena; alguns, ainda, parecem rir, em uma sugestão de satisfação
e/ou zombaria diante da execução daquele homem no madeiro; por fim, alguns
aparentam indiferença, desviando-se da situação, ou melhor, da necessidade de
olhar para ela e se afetar.
Foi
assim que Edvard Munch (1863-1944), pintor norueguês, escolheu contar a
história da crucificação de Jesus Cristo em seus dias. Gólgota tem estado em meu olhar já faz tempo e, desde quando a encontrei,
percebo que muito ela comunica estética e religiosamente – no melhor sentido
das palavras. Neste ano, refletindo sobre a paixão do Messias, voltei-me à tela
a partir do seguinte versículo, no qual Jesus mesmo diz: “quando eu for
levantado da terra, atrairei todos a mim.” (João 12.32) Encontrei uma conversa
entre esse trecho das Escrituras e a pintura de Munch. Penso que essa atração
da qual Jesus falou consegue ser ilustrada no exercício pictórico realizado.
É
interessante notar a sugestão de povos distintos naquele cenário. Nessa
representação, parece ecoar a descrição profética que o próprio João faz
daquilo que Cristo veio fazer no mundo: “olhei, e diante de mim estava uma
grande multidão que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e segurando
palmas. E clamavam em alta voz: ‘A salvação pertence ao nosso Deus, que se
assenta no trono, e ao Cordeiro’" (Apocalipse 7.9 e 10). O Monte da
Caveira, o Gólgota, foi onde o Cordeiro de Deus se doou e se entregou, morrendo
a nossa morte, pagando o preço dos nossos pecados, dando sua vida para que
tenhamos vida eterna, atraindo todos os homens para si.
O
artista faz questão de deixar pessoas terem reações diferentes perante a cruz e
o crucificado. E é de fato importante mencionar essa liberdade que o próprio
Jesus permite que tenhamos neste tempo. Contudo, quando o Rei dos reis
retornar, o critério de sua justiça parte de nossa reação à cruz. Logo,
percebendo Cristo que se entrega à morte no madeiro, importa enxergá-lo em
busca de uma decisão, acatando e compreendendo que o seu sacrifício tem direta
relação conosco ou não. Assim como em O
grito e em outras de suas obras, Munch deixa a perturbadora presença de um
personagem que, da tela, olha para o espectador, fitando-o imperativamente.
Talvez, seja esse homem eu. O seu olhar me encontra e me questiona acerca de
que modo reajo diante da morte de Jesus Cristo.
Um comentário:
Glória a Deus pela sua vida irmão! Vou fazer uma repintura desse quadro e apresentar na minha sala de aula, para propagar o amor de Jesus
Postar um comentário