"Erguei as Mãos!" é a mais recente peça teatral do Grupo Divulgação. Com texto e direção de José Luiz Ribeiro, a obra retrata a realidade da indústria da fé que vem crescendo no Brasil com o passar dos anos. Em suma, a história envolve um casal de aposentados da classe média alta que enfrenta a crise financeira no Brasil atual. Atanásia é a empregada doméstica da casa. Vivendo as dificuldades que o encurtamento da renda determina, os cônjuges passam por algumas privações e, em meio à pindaíba em que se encontram, surge a idéia de criarem um Curso Ecumênico de Formação de Líderes Espirituais. Assim, a família pretende resolver os seus problemas financeiros. A idéia é colocada em prática e os desdobramentos são instigantes.
O espetáculo tem um acentuado tom de protesto que, por sua vez, é justificável. Como cristão protestante, recomendo que todos assistam à peça a fim de serem desafiados pela reflexão crítica que ela traz.
Enquanto assistia a "Erguei as Mãos!", pude associar a denúncia que se fazia no palco com os escândalos correntes no meio evangélico. E, cabe dizer aqui, a peça não ridiculariza Jesus Cristo - como alguns podem achar -, mas, na verdade, ridiculariza o que estão fazendo com o nome dEle nesse tempo dominado pelo individualismo e cegado pelo lucro. "Erguei as Mãos!" é uma crítica à má fé.
Logo, lembrei-me do casal Hernandes. E aqui fica uma reflexão sobre a Teologia da Propriedade.
O caso Renascer contribuiu muito. Por incrível que pareça, é possível dizer isso sim. Tanto a sociedade quanto o meio evangélico foram beneficiados com o escândalo envolvendo Sonia e Estevam Hernandes. Se pensarmos exclusivamente que o caso só serviu para realçar a visão estereotipada que muitas pessoas têm dos evangélicos no Brasil, deixaremos de prestar atenção às lições que dele podem ser tiradas.
O senso comum define os evangélicos como pessoas alienadas, fanáticas e outras qualificações do gênero, cujos líderes têm o único propósito de enriquecer-se às custas dos fiéis. Já ouvi, inclusive, pessoas dizendo: “Eu tentei arranjar um bom emprego, montar uma pequena empresa, mas não deu certo. Acho que vou abrir uma igreja”. O tom, na maioria das vezes, é irônico e aponta para fatos reais. Muitos vêem nesse “negócio de igreja” uma chance para faturar. De fato, existe esse pensamento e é inegável que a canalhice de alguns realmente os levam a agir dessa forma dizendo-se “evangélicos” e lucrando com o cargo de “pastor”. Para Ricardo Agreste, pastor da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera em Campinas (SP), “o caso Renascer fortalece a visão do público em geral de que pastores são indivíduos sem caráter que fazem uso da boa-fé e da ingenuidade das pessoas para construir impérios eclesiásticos e fortunas pessoais”.
Ricardo Gondim, pastor-presidente da Assembléia de Deus Betesda em Fortaleza (CE), afirma que “para quem não conhece a imensa diversidade do meio evangélico, um escândalo desses acaba respingando em todo mundo”. É justamente essa diversidade que precisa ser considerada e pensada quando se trata de uma visão estereotipada do grupo.
Sonia e Estevam Hernandes são representantes do movimento “evangélico” cuja marca principal é a Teologia da Prosperidade. Essa teologia ganhou impulso no país durante os anos de 1990 e prega que os cristãos, por serem filhos de Deus, têm direito a bens materiais e que as igrejas devem ocupar agressivamente espaços na mídia e na vida política para propagar o evangelho. Em um país com imensos problemas sócio-econômicos, não é difícil que um vento de doutrina como esse se espalhe e carregue muitas pessoas consigo.
Essa “teologia da propriedade” é a pedra no sapato dos protestantes históricos (metodistas, presbiterianos, batistas, luteranos) e dos pentecostais tradicionais (Assembléia de Deus). Esses grupos evangélicos criticam severamente a postura a as atitudes das ditas “igrejas” e “pastores” que se valem da Teologia da Prosperidade.
Posicionando-se e analisando o caso Renascer, Gondim vê a possibilidade de as pessoas perceberem que os argumentos “renascentistas” e das genéricas são falsos. Ele completa: “o caso coloca em xeque a Teologia da Prosperidade e mostra que só se mantém o discurso com artifícios ilegais”.
Todavia, Sonia, Estevam e os companheiros de teologia podem objetar, dizendo-se perseguidos por sua fé. Se, contudo, a fé que eles têm se baseia na Bíblia, o argumento é inválido, pois, “há um trecho de uma das cartas do apóstolo Pedro que diz assim: ‘Serão felizes se forem maltratados por seguirem a Cristo. Que ninguém tenha de ser castigado por matar, por ser ladrão, por difamar, ou por se meter na vida alheia. Mas se alguém sofre por ser cristão, não se envergonhe por isso’”, afirma Ariovaldo Ramos, pastor da Comunidade Cristã Reformada e presidente da ONG Visão Mundial. Ou seja, o próprio livro sagrado adverte contra ações ilícitas.
O casal Renascer prestou um serviço de utilidade pública à sociedade brasileira ao evidenciar, mais uma vez, a corrupção existente no meio “evangélico” e, simultaneamente, permitiu que os evangélicos honestos, sérios e probos se diferenciassem em meio à avalanche de escândalos. Obviamente, Sonia e Estevam tornaram-se exemplos negativos, mas são exemplos negativos que ensinam uma lição para aqueles que estão dispostos a aprender alguma coisa ou a fazer uma reflexão diante dessas circunstâncias. E, por favor, que os “evangélicos” também se disponham a refletir e perceber para onde é que caminham e com quem caminham.
P.S.: As declarações foram extraídas dos depoimentos dos pastores ao site G1 no dia 28/01/2007.
P.S.: As declarações foram extraídas dos depoimentos dos pastores ao site G1 no dia 28/01/2007.
Um comentário:
Concordo com as colocações feitas,e como é de se esperar, sempre ponderadas. Também recomendo a peça do Grupo Divulgação, uma crítica bem feita e nos faz pensar, sem nos ofedenfer
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