domingo, 26 de outubro de 2008

Eternidade

Tempos controversos e incertos. O mundo financeiro balança nas altas e baixas das moedas. A cada dia, podemos nos surpreender com as oscilações do dólar e do euro que desestabilizam o cenário econômico mundial. Parece que o mundo contemporâneo assume cada vez mais a forma fluida, frágil e efêmera que os tempos têm conferido a ele e também a nós.

Parece que tudo está passível de ser alterado, desestruturado. E é nesse contexto que olho para aquele que era, que é e que há de ser. A Sua palavra nos diz que Ele mesmo plantou a eternidade no coração dos homens e das mulheres : "também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim" - Eclesiastes 3.11. Talvez como que numa tentativa de nos atrair para Si.

Às vezes, sinto-me cansado da transitoriedade. Sei que ela tem o seu lugar sobretudo na juventude. Mas não me contento em deixá-la como regra da minha vida, numa evanescência do permanente, sólido, constante que também ainda nos caracteriza.

Para pensar na eternidade, extrapolo minha limitação repleta de temporalidade. Pela fé, consigo entender que esta vida não se resume ao aqui e agora. E, quiçá, a fé seja essa semente de eternidade que o Senhor deixou plantada em nossos corações.

Crer nisso, em tempos como os atuais de fugacidade intensa, é desafiador. Esse exercício que alguns podem até chamar de retrógrado, abstrato, impossível ou mesmo de incoerente garante sentido e completa a nossa existência.

Com uma expectativa de vida limitada aos setenta e poucos anos hoje, convencidos de que certidão de nascimento e atestados de óbito declaram início e fim da vida, assustados pelas inúmeras doenças que a luta contra o tempo tem trazido para nós, tornamo-nos descrentes. Parece que não há mais espaço para se pensar na eternidade. Na contra-corrente, brada a voz do Mestre: "E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17.3).

Conhecer a Deus é começar a entender o kayrós, ainda vivendo o chronos. Ou seja, experimentar o tempo na dimensão eterna ainda limitados pelos segundos, minutos, horas, dias, meses, anos... Já dizia Agostinho: "porque nos criaste para Ti e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousa em Ti".

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