Há muito tempo, andava desconfiado de mim mesmo. Diante da televisão que me mostrava as dores deste mundo, eu permanecia apático, inerte e cético. Por exemplo, o meu envolvimento com a história de vida dos mineiros chilenos foi raso. Confesso que, egocentricamente, privava-me da compaixão. Talvez, justificava essa postura com a pergunta evasiva do "o que eu posso fazer por isso?"
A situação crítica pela qual passa o Rio de Janeiro nesta semana, especificamente, e o barril de pólvora que é questão entre as Coreias foram os estopins. Eu me dei conta de quão sensível é a fronteira entre a paz e a guerra. Chamou-me a atenção o fato de que pessoas, como eu e você, que trabalham, têm família, amigos, sonhos, direitos e deveres, essa gente tem sido vítima de violência e expressões desmedidas de ódio aqui no Brasil e lá no outro canto do mundo.
O que eu posso fazer? Entendi que melhor que a inação é a oração. E não acho que essa conclusão é fruto de minhas estratégias cognitivas. Creio, firmemente, que o Espírito Santo, o parakletos, é quem me motiva a sair de mim mesmo e servir nesta dimensão desconhecida da intercessão. E essa premissa se justifica pela própria identidade de Cristo que "não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos 10.45).
Como preciso aprender a servir dessa maneira. Alguns podem dizer que, enquanto se ora, podia-se estar fazendo alguma coisa "mais útil". Todavia, a oração nos relembra de nossa condição e, até mesmo, da nossa não-condição. Frente às complexidades que envolvem o Rio de Janeiro e as Coreias, qual é solução humana possível?
Ah, Deus, estende teu braço forte e intervém em nossa realidade, manifestando a tua solução. Estamos cansados, Senhor. Temos medo, insegurança e, por vezes, a tristeza nos abate, roubando de nós a esperança. Tu podes, sim, trazer a paz. Tu, sim, és capaz de mudar a situação do Rio de Janeiro e acalmar os ânimos das Coreias. Não nos deixe indiferentes, Senhor, diante das dores deste mundo. Motiva-nos à oração quando não podemos falar com nossas mãos. No nome soberano de Jesus. Amém.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Duas orelhas e uma boca
"O que controla a sua boca preserva a vida,
mas quem fala demais traz sobre si a ruína" (Pv 13.3).
Nossa geração tem concentrado muita atenção nas redes sociais. Facebook, Twitter, Orkut e congêneres são os suportes utilizados para que as narrativas do eu se manifestem. "No que você está pensando agora?", "O que está acontecendo?", "Qual é a frase do seu perfil?": essas perguntas têm nos provocado e temos respondido a elas. Sem dúvida, individualismo e subjetividade nunca estiveram tão evidentes.
Você pode opinar sobre tudo e todos. Você pode elaborar o discurso sobre si. Você está em evidência. Você tem espaço. Onde ficam os outros? E cadê aquela lógica, que a vovó ensinava, do "meu ouvido não é penico"? No exercício de ser e conviver, o eu precisa se dar conta do outro e do mundo, pois ele não subsite sozinho e, se assim tenta ser, acaba por se anular.
Temos falado muito. Será que esquecemos do que, quando crianças, ouvíamos com frequência: temos duas orelhas e uma boca? Será que a internet tem reproduzido o comportamento típico humano do pouco ouvir e do muito falar? O que temos falado nas redes sociais?
O sábio Salomão - aviso, ele não tem Twitter, Facebook e nem Orkut que seja oficial - já advertia que controlar a boca preserva a vida. Será mesmo que as redes sociais são o melhor lugar para expressar o meu humor, as minhas dúvidas pessoais e percepções que tenho sobre os outros? Essa verborragia é válida pra quê?
Para que a pulga fique atrás da orelha, vale a pena pensar que Jesus Cristo disse que "a boca fala do que está cheio o coração" (Mt 12.34b). Que tal dar uma olhada para o meu coração hoje? Mas não preciso tuitar o que achei, né!?
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
O último voo
Ela, caída sobre a calçada, agonizava seu último voo. O bater das asas parecia uma tentativa última, ainda que grudada ao solo, de voar. Voar para fugir da dor. Voar para fugir da morte. Voar para ser o que sempre foi.
A cidade não parou para vê-la. Antes, o ronco dos motores e o fluxo das pernas apressadas se intensificavam, mais e mais, a cada minuto. Ignorando a cena e ignorando uns aos outros, os homens e as mulheres seguiam sua vida urbanizada. Típica cena de recomeço de semana na urbe.
Também, quem disse que o urbano a reverenciaria no funeral anônimo? Ela, agora, enxergava a cidade de um ângulo limitado para suas asas. O olhar não mais era altaneiro, atinha-se ao chão.
Asas batiam, batiam. Asa batia. Força faltava. O corpo pesava. Imóvel ficou. Um último voo a levou para longe. Jazia a pomba naquela quarta-feira de manhã.
A cidade não parou para vê-la. Antes, o ronco dos motores e o fluxo das pernas apressadas se intensificavam, mais e mais, a cada minuto. Ignorando a cena e ignorando uns aos outros, os homens e as mulheres seguiam sua vida urbanizada. Típica cena de recomeço de semana na urbe.
Também, quem disse que o urbano a reverenciaria no funeral anônimo? Ela, agora, enxergava a cidade de um ângulo limitado para suas asas. O olhar não mais era altaneiro, atinha-se ao chão.
Asas batiam, batiam. Asa batia. Força faltava. O corpo pesava. Imóvel ficou. Um último voo a levou para longe. Jazia a pomba naquela quarta-feira de manhã.
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