Ela, caída sobre a calçada, agonizava seu último voo. O bater das asas parecia uma tentativa última, ainda que grudada ao solo, de voar. Voar para fugir da dor. Voar para fugir da morte. Voar para ser o que sempre foi.
A cidade não parou para vê-la. Antes, o ronco dos motores e o fluxo das pernas apressadas se intensificavam, mais e mais, a cada minuto. Ignorando a cena e ignorando uns aos outros, os homens e as mulheres seguiam sua vida urbanizada. Típica cena de recomeço de semana na urbe.
Também, quem disse que o urbano a reverenciaria no funeral anônimo? Ela, agora, enxergava a cidade de um ângulo limitado para suas asas. O olhar não mais era altaneiro, atinha-se ao chão.
Asas batiam, batiam. Asa batia. Força faltava. O corpo pesava. Imóvel ficou. Um último voo a levou para longe. Jazia a pomba naquela quarta-feira de manhã.
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