quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O último voo

Ela, caída sobre a calçada, agonizava seu último voo. O bater das asas parecia uma tentativa última, ainda que grudada ao solo, de voar. Voar para fugir da dor. Voar para fugir da morte. Voar para ser o que sempre foi.

A cidade não parou para vê-la. Antes, o ronco dos motores e o fluxo das pernas apressadas se intensificavam, mais e mais, a cada minuto. Ignorando a cena e ignorando uns aos outros, os homens e as mulheres seguiam sua vida urbanizada. Típica cena de recomeço de semana na urbe.

Também, quem disse que o urbano a reverenciaria no funeral anônimo? Ela, agora, enxergava a cidade de um ângulo limitado para suas asas. O olhar não mais era altaneiro, atinha-se ao chão.

Asas batiam, batiam. Asa batia. Força faltava. O corpo pesava. Imóvel ficou. Um último voo a levou para longe. Jazia a pomba naquela quarta-feira de manhã.

Nenhum comentário: